ENCHENTES

Amparo já foi vítima de centenas de inundações. O Camandocaia já “bufou” de forma a prejudicar inúmeras famílias através dos tempos. Tínhamos, seguramente, uma ou duas enchentes todos os anos. As construções, normalmente, ocupadas por famílias carentes, sempre foram as mais atingidas. Algumas delas ficaram famosas, a de 1929 e a de 1970 disputam as primeiras posições entre as maiores. Vejamos como o “Correio do Amparo”, jornal de circulação diária, fez a sua divulgação no dia 25 de janeiro de 1895.

“INUNDAÇÕES”
Visitamos hontem o novo bairro “Anna Cintra” e tivemos ocasião de ver a que altura chegaram as águas do Camandocaia. Os quintaes estão ainda cobertos de água, e apesar de ter chovido pouco durante o dia pouco tem abaixado o rio. Alguns muros cahiram e várias casas estão em risco de vir abaixo, se as chuvas continuarem.

Deus se amercie de nós.”

Uma semana depois, na edição do dia 02 de fevereiro, a enchente ainda era notícia. Comprove!

“INUNDAÇÕES GRANDES PREJUIZOS”
Os habitantes desta cidade passaram ante-hontem por um desses transes que difficilmente a penna pode traçar. Às 6 horas e meia da manhã uma chuva torrencial, uma verdadeira tromba d’água soprada por grossos tufões, rebentou sobre esta cidade prolongando-se cada vez mais forte, mais temerosa, até depois das 10 horas da manhã.

Às primeiras chuvas, começou o Camandocaia a crescer, e tão rapidamente que em poucos minutos a água subiu até a altura da Rua Barão de Campinas. As casas commerciais de quase todas as ruas, e muitas casas particulares viram-se de repente inundadas chovendo nellas como na rua parecendo um verdadeiro dilúvio.

COUSA NUNCA VISTA!
Todo o Largo da Estação ficou transformado em um extenso lago e as casas de negócios do mesmo Largo desde a Rua Albino Alves até o estabelecimento do cidadão Jeremias de Camargo estiveram com água à altura de um metro e mais, soffrendo muitas dessas casas enormes prejuízos.

QUADRO TRISTÍSSIMO!
De uma e outras casas só se viam sahir objectos de uso, camas, mezas, colchões, pipas, caixões com artigos de commércio, de tudo isto, parte ficava no mesmo largo e parte era conduzido para as casas que se julgavam livres do perigo.”

Em outra edição pudemos ler:

ENCHENTES – 1895!
“Não vimos, ainda, quadro mais desolador. Quantos gritos lascinantes, quantas lágrimas vertidas, quantas implorações, e o rio cada vez mais se avolumando, mais ameaçando levar casas, pontes, tudo em corrente impetuosa e indomável. Às 10 horas da manhã começaram a cahir algumas casas, e só se via rio abaixo portas janellas, caixas, mezas, pipas e uma infinidade de objetos que a água carregava.

O aspecto das casa cahidas sobre o rio era o de um terremoto vendo-se aqui e ali ao lume d’àgua e arrastada pela corrente sempre impetuosa, gallinhas, gaiolas de passarinhos e muitos outros objetos que contristaram deveras o coração.”

Foram vários dias de desespero. Em nova edição do “Correio do Amparo” lia-se:

“Das proximidades da cidade nos chegam notícias cada qual mais desanimadoras. Dous tanques das fazendas do Sr. José Feliciano de Camargo foram arrombadas.

A lavoura teve grandes prejuízos, sendo arrastados pela torrente milhares de pés de café.

O muro do Cemitério público do lado do Ribeirão ruiu todo.

Em Coqueiros a inundação foi também enorme como se vê do seguinte telegramma que nos dirigiu ante-hontem o nosso amigo Major Alfredo de Barros. “De Alfredo de Barros à Corrêa Júnior, proprietário do Jornal. De momento grande inundação. Abandonei casa toda tomada de água. Grandes prejuízos. Cousa nunca vista.”

SOCORRO ÀS VÍTIMAS!
Foram muitas as pessoas que prestaram socorros às vítimas da terrível inundação. Impossível enumera-los. Destacaram-se os senhores Herculano e Jacintho Cintra que offereceram para agasalho dos que não tinham casa, o grande prédio onde vão montar uma cervejaria, os baixos do sobrado onde reside o Sr. Herculano, e a casa do Chopp Amparense onde está o estabelecimento do Chico Silva que se portou como um heroe, socorrendo os perseguidos da sorte.”

Ao terminar esclareço que o texto contem muitas transcrições com a curiosa ortografia do Século XIX. Minha expectativa é que os leitores conheçam mais um fato do nosso passado.