REVISTAS ANUAIS

REVISTA DO ANO I
Eis de novo em presença dos meu amáveis leitores e adoráveis leitoras para fazer a chronica, revista ou resenha dos acontecimentos os do anno transacto.

Não tendo desta vez grande cousa para contar. Foi estéril de novidades, o bem aventurado anno de 1895, que Deus haja.

O que mais importante tenho para dizer é que acresceu-me mais uma dezena de mezes nas costas e que sinto a mocidade fugir-me cada vez mais.

Com effeito, apezar de ser eternamente Junior e Pachola, eu vou ficando já um tanto velhote, ao ponto de ir ficando assim quase... na reserva.

Pois apezar disso ainda não me levam á parede assim as duas por três, podem estar certos.

Passo a fazer os comentários dos factos ocorridos em 95, guardando sempre a ordem dos annos anteriores.



REVISTA DO ANO II
JARDIM
O autor elogiou o Jardim como um local magnífico. Exaltou o fato de a parte de cima, antes cemitério, ter sido inaugurada.

Criticou, por sua vez, durante, a população.

O nosso jardim este anno esteve literalmente ás moscas.

Só lá uma vez ou outra tocou alli a banda musical Sociedade 10 de Julho, que acha-se numa ponta onça. A concorrência não foi grande

Nem o magnífico tanque aquático, que ali foi collocado com o belíssimo repuxo, poude attrahir a concorrência geral àquele passeio, que continuou no abandono, quase como se não existisse, apezar de ter ficado muito mais elegante, muito mais chic, depois de inaugurada a parte de cima, servindo de assumpto para o exordio de um magnífico discurso proferido no Theatro João Caetano, no dia 8 de Setembro, por um dos melhores oradores paulistas.

Consintam-me esta fraqueza: a aversão do nosso povo por aquelle lugar, onde, quando menos se respira oxygenio puro, é a prova mais cabal de que a civilisação entre nós só existe in nomine e não passa de fingimento.

SOBRE O TEATRO DE JOÃO CAETANO ESCREVEU
O Theatro de João Caetano.

Sorumbático, frio, sem vida e sem animação durante o anno todo.

A não ser os espetáculos da companhia Filo-dramática Italiana que levou com sucesso, á scena o magnífico e sentimental de Pinheiros Chagas, A Morgadinha de Val-Flor, traduzido para a maviosa língua do Dante, salien ando-se no desempenho o professor Alfredo Parisi, um simples amador com todas as qualidades de artista e a sra. D. Barbara Parisi, cuja voz Argentina e cujo talento fez-nos recordar do desempenho que o papel de Morgadinha, deu a actriz brazileira Luiza Leonardo, nada mais de importante occorreu.

O Vasconcellos não nos appareceu aqui este anno, nem o Sepúlveda, nem nenhum de seus companheiros!

O Grupo Dramático Amparense que deu alguns espectaculos no começo do anno, regularmente concorridos, cansou logo, dissolvendo-se ao cabo de pouco tempo

Agora, quando esta escrevo, acha-se na terra a companhia Lyrica Verdine, que já levou a Gioconda, o Ernani, o Trovador e consta que hoje leva o Fausto, dando mais algumas recitas.

Mas taes espectaculos não podem ser apreciados nesta revista que pertence ao anno de 95 e eu já escrevo esta a 29 de Janeiro de 96.

O Almanach do Amparo este anno atrasou, o que não é para admirar porque tudo agora anda atrasado e de pernas para o ar.

REVISTA DO ANO IV
O carnaval era chamado de ENTRUDO.

Era um tanto agressivo.Costumava-se molhar as pessoas, jogar farinha e confete entre outras coisas.

Continuou o redator Pachola Júnior descrevendo o carnaval com suas críticas.

“Haja vista o estudo, que começou tarde, estando já muito próximo o carnaval e não havendo ainda bastante jogo de confetti.

Por fallar nisto, devo dizer aqui que continuo a sustentar as laranginhas.

Os modernistas que espumem de raiva, que se destaquem em risos aparvalhados, que me chamem de bobo, que eu continuarei a manter minha opinião.

Ella é singular, é original, é excêntrica talvez, mas eu deffiro de muita gente que anda neste mundo por ver andar em outros.

Rebanhos de carneiros que não é capaz de ter uma idéia própria, uma opinião sua, pessoal, que só repete e só diz o que ouve outros dizerem!

Eu ao-menos tenho-a coragem para ouvir os assobios dos garotos inconscientes, dizendo sempre a mesma cousa. O entrudo das laranginhas era muito mais engraçado, muito mais espirituoso, apezar de incontestavelmente ser menos hygienico.

E tendo quase passado sem entrudo (eu estou me referindo ainda a 96) creio que passamos também sem carnaval, com mascaras ou sem ellas, porque ate agora nada vejo de aprestos para isso”.

REVISTA DO ANNO V
“Os bailes este anno deram sorte. Até eu sahi do serio, em diversas ocasiões, dançando em differentes partidas de associações e bailes particulares. Hoje mesmo dia em que escrevo, realisa-se mais um no Club 8 de Setembro, que iniciou o 96 com uma esplendida soirre, começando as 10 horas da noute, de 31 de Dezembro de 95 só terminou às 6 da manhã de 1 de Janeiro de 96.

A rapaziada de lá esteve na ponta e o highlife amparense não deu ponto em nenhuma partida.

Fez furor a quadrilha americana que alli se começou a dançar, propagando-se logo por todos os salões da cidade.

A “Sociedade 5 de Março” esplendida, brilhante e esperançosa, dirigida por uma plêiade de esforçados moços amparenses, seguiu de perto o velho e pachorrento Club, não deixando de dar uma única partida!.

Parabéns á brilhante associação, tão hostilisada em seus primeiros passos, e que soube vencer galhardamente todos os obstáculos que se oppuzeram á sua prosperidade!

Meus emboras á brilhante mocidade que dirige e tem por divisa – preservar è vencer!

O “Club 3 de Maio”, deu também numerosas partidas, tornando-se ressuscitado depois de tanto tempo, mostrando um vigor tal, que dir-se-ia que elle nunca esteve morto e enterrado.

Meus parabéns a elle e a todas as associações do Amparo, de tantos momentos agradáveis proporcionaram aos seus associados e meus emboras á mocidade amparenses”

REVISTA DO ANNO VI
CASAMENTOS
Os casórios este anno não foram muitos. Só lá um ou outro retardado, conseguiu collocar-se, empenhando para isso todos os esforços.

Sem embargo disso nunca se fallou tanto em casamentos como em 95! Pudera! nunca houve tantos bailes no Amparo!

Até de mim chegou-se a fallar, dando-se o meu suicídio como certo. Felizmente era tudo historia, inclusive as taboas, das quaes só tomei algumas em certos bailes (antes de tudo a verdade) o que é natural porque eu às vezes tenho capricho de descer dando a honra de me dar taboa a certa gente que não merece.

REVISTA DO ANNO VII
Não há dúvida de que o redator PACHONA JÚNIOR era visto como polêmico. Ele mesmo confessa as críticas recebidas da “O Papagaio” e de toda a Imprensa.

Não pensem que estou zangado, nada disso. Eu só subo a serra por cousa que valha a pena.

É por isso que não me zangue com muitas pilheiras do “O Papagaio” (Deus lhe falle na alma!) a meu respeito. É por isso que nem estremeci com a medonha saraivada de descomposturas que pela imprensa tomei durante o anno todo e até impróprio para ellas.

Estou a aqui, pois, eu ou sagrado martyr, e não tarda muito que seja canonisado!

Por fallar em Papagaio, sympathisei deveras com aquella ave falladora que só durou três mezes, pondo muita gente desconcertada e outras satisfeitas com a sua garrulice às vezes indiscreta.

E ainda agora tenho saudades do pobre Papagaio, qual viveu e morreu acariciado por setinosas mãos, conforme elle mesmo se gabava.

REVISTA DO ANO VIII
A gente da “Sociedade 5 de Março” respingou. Não quizeram calar-se os sympathicos rapases com a tunda que lhes passei, encarregaram o Tupymambà dos escriptores amparenses de responder-me.

Poderia reduzil-o á nada aqui, mas não farei, em attenção à gente da brilhante sociedade que não sabe que eu indiretamente cooperei para a sua fundação, prestando até um outro serviço sem nunca permitir que meu nome apparecesse!

Não responderei agora que fizemos as pazes (por minha parte nunca houve guerra seria e sim algumas pilherias) e em attenção a tantos amigos distinctos que lá tenho e que sempre me fizeram justiça de crer que eu nunca tive a intenção de hostilisar a 5 de Março. Não responderei principalmente porque os melhores momentos do anno de 95 passei-os eu exactamente nos salões da brilhante, magnífica e sympathica sociedade.

REVISTA DO ANNO IX
“Abro parenthesis para assumpto serio no meio desta chronica humorística.

A câmara municipal transacta entregou a direcção dos negócios municipais á sua successora, que parece resolvida a trabalhar seriamente a bem dos interesses do município.

A questão do abastecimento d`água para a cidade, que foi resolvida de modo incompleto pela antiga câmara, deve merecer a attenção da actual, cujo pessoal deve comprehender o alcance que essa medida de utilidade geral deve trazer para o município.

O Barão de Campinas, de saudosa, memória, pretendeu doptar o Amparo, com esse melhoramento, que muito contribuiria para que o renome do Amparo ainda mais avultasse em todo o Estado.

Infelizmente, não poude levar a effeito a sua louvável idéia, por causa da opposição que appareceu na occasião, suggestionada pelo odioso espírito partidário, que tanto prejudica os interesses de muitos municípios”.

Realmente, à distância, posso afirmar que foi uma briga benéfica.

Uns querendo o abastecimento de água de imediato, o mais rápido possível.

A oposição, a essa idéia, lutava para que o abastecimento de água viesse acompanhado do serviço de esgotos.

Foram vários os projetos apresentados, porém, água e esgoto vieram juntos alguns após.

Amparo foi dotado de um excelente serviço que atendeu à população durante todo o século XX.

Continua servindo até hoje através da ETA-I e de toda a canalização da parte central cidade.

Termino convidando-o(a) a visitar o verdadeiro monumento contido no Parque Dr. Arruda.