RECREAÇÕES

Nos jornais e almanaques do séc. XIX eram comuns as publicações de charadas como desafio para os leitores.

O professor Jorge Pires de Godoy era um dos adeptos desse tipo de recreação. Nos seus históricos e em importantes almanaques, anuais, figuravam vários tipos de charadas.

Eram comuns, também, piadas e poesias.

Entre as charadas havia um tipo chamado logogrifo, de difícil solução.

Logogrifo – modalidade de charada que consiste em formar certo número de palavras com letras de outra palavra ou das palavras integrantes de uma locução. Para isso numeram-se as letras da palavra ou locução escolhida e com êsses números se indicam as letras utilizadas nas palavras que se formarem. É condição do logogrifo que no conjunto das palavras assim formadas figurem tôdas as letras da palavra ou locução básica e, no mínimo, se repita a metade mais uma. O logogrifo pode ser feito em prosa ou verso, mas de preferência em verso. (Compõe-se um logogrifo incluindo-se numa ou mais frases de sentido completo, ou num poema, sinônimos das palavras formadas [parciais*] e em último lugar o da palavra ou locução que serve de solução [conceito*], indicando-se ao lado de cada parcial, entre parênteses ou ao pé da composição [quando em prosa], e no fim do verso em que aparecem ou ao pé do poema [quando em verso], os algarismos, separados por vírgulas, correspondentes às letras do conceito utilizadas na sua formação). Exemplo de logogrifo em prosa: O namôro é um espetáculo ridículo para quem o observa, mas um deslumbramento para quem está ao lado da pessoa amada e se embevece com o seu semblante puro e encantador. 1,5,9,7 / 4,10,6,2 / 3,5,8,2 / 1,7,4,10 _ solução: fascinante; as parciaes são, pela ordem, fita, cena, sina e face, e verificam-se escrevendo-se a palavra fascinante e numerando as suas letras dêste modo:

F A S C I N A N T E

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Como desafio para os prezados leitores seguem mais alguns centenários logogrifos.

Logogrifo I:

És das bellas ou sonho mais dourado – 1 – 7 – 8 – 9 – 7 – 4 – 10
Que suavisa e que encanta as estacões – 6 – 9 – 3 – 4 – 10
Tu perfumas os gregos corações – 1 – 5 – 8 – 9 – 2 – 3 – 5
No ar, no espaço, ó ente imaginado – 10 – 7 – 3 – 7 – 6

Resposta

Os teus beijos do sul são tão jagueiras,
Tuas endeixas na frondes são tão meigas,
Que ante os teus bafejos as bellas veijas
Se curvam com os vates pegureiros

Resp: Briza-Bella


Logogripho II

A Décio Monforte
A innocente distração – 5 – 6 – 1 – 2 – 3 – 2
Que nada tem de ligeira – 1 – 2 – 3 – 6
É uma forma verdadeira – 5 – 2 – 3 – 1 – 6
Que nos fala o coração – 6 – 1 – 2 – 3 – 4 – 7

Resposta

Assim sendo, bons leitores
Já o tens pois decifrado,
Sou teu amigo e _ cuidado
Eu te peço em seus amores

Hariolo

Resp: Morenas

Amparo possui diversas praças, uma delas a praça ou largo do Mercado foi inaugurada no dia 1º de Janeiro de 1887 e o jornal “Correio Amparense”, com publicações às Quartas, Sextas e Domingos, de propriedade do jornalista A. P. Corrêa Jr., na coluna Noticiario divulgou com o seguinte texto essa festividade:

Adendo
Como Curiosidade, na mesma página que publicou a notícia da inauguração do Largo do Mercado, ao lado dela, figuraram três outras notícias.

Não querendo privar meus leitores do conhecimento delas, transcrevo-as abaixo:

Grupo dramatico – Está entre nós um grupo de artistas dramaticos que pretende dar no Rink dous espetaculos compostos de comedias e cançonetas.

O Grupo a que nos referimos tem em seo seio artistas de muito merito e nos theatros onde se têm exhibido tem conquistado os francos applausos do publico.

Sobre tudo há um ponto que mais se commenta – é um conjuncto de vocações para a scena, que se apresenta sem os atavios, sem a pompa dos cartazes, em fim sem as recommendações de personagens que são muitas vezes a única cousa que apparece nos recommendados.

O grupo dramatico que se apresenta aos amparenses o faz, não conscio do que vale porque é o publico quem há de julgal-o, mas, certo da protecção que espera receber, por que sem esta ainda os maiores genios baqueariam.

Mas estamos certos que o publico não deixará de ir assistir aos seus espectaculos, porque, e sobretudo, costuma apparecer sempre onde a arte apparece e onde o seu concurso se faz preciso.

O primeiro espectaculo deve realizar se no dia de Reis, se o director do podramatico, que é tambem um dos principaes artistas, melhorar do grave problema de saúde que o acomete.

Subscrições
Amparo era pródigo em campanhas para melhoramentos públicos ou para socorrer financeiramente entidades beneficentes.

Era muito comum o Comendador Guimarães, o Coronel Luiz de Souza Leite, o Visconde de Soutello entre outros promoverem subscrições com essas finalidades.

O povo por sua vez participava ativamente. Dessa forma grandes obras foram realizadas. São exemplos: o Hospital “Anna Cintra”, a Beneficência Portuguesa e o “Asilo de Mendigos”, hoje “Lar dos Velhos”.

Como informação curiosa segue a abertura da subscrição que financiou a construção do Jardim Público, encabeçada pelo Comendador Guimarães.

Jardim publico
Subscripção promovida para a construcção d’esse melhoramento.

· Com. Zeferino da Costa Guimarães 100$000
· Com. Joaquim Pinto de Araujo Cintra 100$000
· Gabriel Orlandi 050$000
· Dr. Herminio Lemos 050$000
· Dr. Silveira Cintra 050$000
· Dr. Carmo Cintra 050$000
· Joaquim dos Santos Carvalho 030$000
· Joaquim Antonio de Almeida Sobrinho 030$000
· Cesar Cortini 020$000
· Felicio Granato 020$000
· Jenonymo Rochi 020$000
· Pedro Bruschini 020$000
· Tamberlini & irmão 020$000
· Pedro Pinto & Lino 020$000
· Joaquim Alves Cardoso 020$000
· Dr. Antonio Augusto Birrencourt 020$000
· Joaquim Domingues de Oliveira 020$000
· Dr. Salvador Doniei 016$000
· José nunes de Macedo 010$000
· Lazaro Tamberlini 010$000
· Zeferino Hungaretti 010$000
· João Moscardini 010$000
· Cap. Jorge Franco do Amaral 010$000
· Candido de Godoy Franco 010$000
· Antonio Del Corso 010$000
· Francisco Ebolij 010$000
· Domingos Vita 010$000
· Jacob Luchesi 010$000
· Roberto Pardial 010$000
· João Estevam Martins 010$000
· Guilherme do Santos 010$000
· Dr. José Pereira de Queiroz 010$000

(Continua)

CALÇAMENTO I
1865 - A câmara contrata, pela primeira vez, a fatura de uma calçada, “no centro da rua Municipal, começando na esquina de cima da rua Formosa e em continuação à calçada aí existente, a preço de 7$000 por braça, ficando o contratante Manuel José da Silva obrigado a faze-la com pedra grande e de boa qualidade”. Preço ajustado de 469$000, correspondente a 67 braças de calçada.

CALÇAMENTO II
Dia – 12
1866 - De acordo com as posturas, a Câmara estipula o prazo de 6 meses “para os preparatórios mandarem calçar as frentes de suas casas”.

CONVENÇÃO REPUBLICANA
1873 - Comparecerem ã Convenção Republicana de Itu, como representantes de Amparo, o dr. Bernardino José de Campos Júnior, Francisco d`Assis Santos Prado e Tristão da Silveira Campos.

CRIMES
1870 - Escolta policial procura prender “uma malta de ciganos arranchada num dos subúrbios da cidade”, acusados da prática de crimes numa das estradas próximas à cidade, morrendo um dos guarás no tiroteio estabelecido.

Correio – 2
Os amparenses enconformados com a negativa do Governo em atendê-los criaram em 1871 um novo correio estabelecido por iniciativa particular.

Exatamente no dia 04 de Janeiro de 1871 parte para Campinas a primeira mala desse novo correio.

Os serviços foram custeados por cerca de 90 pessoas. O líder do movimento foi o sr. Francisco D’Assis Santos Prado.

O movimento recebeu severas críticas do Jornal da Capital “Correio Paulistano”.

O líder, Sr. Francisco, o jornal rotulou de “cabecilha da sediciosa e descortês ocorrência”.

Acrescentaram ainda: “Cuidado com os amparenses! Com tais debragados exemplos, mais dia menos dia começam êles a tratar de escolas noturnas, telégrafos, estradas de ferro e quejandas heresias”.

Retrucaram os amparenses: “Nossos amigos, nossa família, nossos correspondentes nos escrevem para Campinas e a poderosa administração de São Paulo nos remete as cartas para Bragança!

“Isto não se recomenta”!

“É a administração do Governo matando iniciativa individual”.

Correio
Amparo encontrou, no século XIX, sérios problemas relativamente ao correio.

Havia muita reclamação por parte da população e especialmente das indústrias e fazendeiros.

Em 1851, Amparo encaminhou representação, com 19 assinaturas, ao Presidente da Província alertando sobre a necessidade de comunicação, via correio, com a Capital.

Alegavam: “A indústria e principalmente a cultura do café, em grande progresso, têm promovido grande adiantamento no comércio entre a cidade de Santos e esta Freguesia, havendo uma correspondência ativa”.

“Pedimos para que o Correio da Vila de Bragança ou da cidade de Campinas incluam Amparo em suas atividades”.

Em 1858 a Câmara representa junto ao Governo reivindicando que o correio para Mogi-Mirim proveniente da cidade de Campinas passasse por esta vila de depois seguisse para Mogi-Mirim.

Nesta data Amparo já deixara de ser Freguesia passando a Vila.

Em 1863 os amparenses pleiteiam que o Correio seja encaminhado via Campinas, cidade com a qual mantém maiores relacionamentos do que Bragança.

Em 1865 movimentou-se a cidade a fim de criar local para seu funcionamento.

Imprensa I
A Imprensa no Século XIX

Ao escrever sobre toda a imprensa de um século é impossível não cometer omissões.

Houvesse, no século XIX, um museu, como o atual, e a segurança dos detalhes históricos seria maior.

O Grêmio Literário Carlos Ferreira, fundado em 1900, guardou algumas coleções mas na sua maioria incompletas.

Em 1871 foi editado um almanaque e em 1873 surgiu o 1o jornal, “A Tribuna Amparense”.

Amparo estava em franco desenvolvimento que só cessou entre 1920 e 1930 em razão de uma enorme crise econômica.

Amparo que no período provincial esteve entre as primeiras cidades paulistas teve uma imprensa dígna desse progresso.

Destaco nessas condições o papel importantíssimo dos profissionais da Imprensa que através de suas publicações fazem a história.

Em razão dessa importância exige-se um jornalismo independente, competente e imparcial.

Doenças
As doenças epidêmicas eram uma preocupação constante das autoridades e da população de modo geral.

Os recursos da medicina, evidentemente, eram precários em relação aos dias atuais.

Foi só em meados do séc. XIX, época alvo de nosso trabalho, que Edward Jenner e Louis Pasteur provocaram verdadeira revolução da medicina.

Lançou-se então as bases da antissepsia e da cirurgia asséptica de nossos dias.

Soube-se que os germes causavam doenças.

Ficou comprovado que os germes, as bactérias e outros agentes infecciosos se transmitiam pela água, leite, alimentos, insetos ou por contato direto homem para homem.

Os estudos se intensificaram mas, evidentemente, não surgiu uma “fórmula mágica” que eliminasse as doenças.

Somente a partir de 1900 é que os métodos de defesa foram se tornando mais eficientes. A alimentação deficiente também era causadora de doenças. A descoberta das vitaminas revolucionou a nutrição.

1852
Em ordem cronológica desenvolvo as notícias sobre a saúde no nosso município:

Em 1852, Amparo pertencia a Bragança e o juiz municipal de Bragrança, Joaquim Pinto Porto informa ao Presidente da Província sobre o estado sanitário do município (abrangendo Amparo), salientando que as moléstias mais frequentes são a tísica pulmonar, aneurisma, pleuris e sobretudo a hidropsia. Em 12 de Março de 1852 informaria ser de 80 o número de lázaros do município.

1865
Em 1865 Amparo já se emancipara de Bragança tornando-se vila. Nessa data a Câmara informa que o flagelo das bexigas começa a fazer vítimas.

Lamentavelmente a maioria dos doentes perecem à míngua pois assim que passam a apresentar sintomas são abandonados por parentes e amigos, agravados pela não existência de um hospital.

1875
A Varíola foi outro sério problema para aquela antiga população.

Em 1875 o Juiz de Direito, Juiz Municipal, o Presidente da Câmara e os médicos Drs. José Ferraz de Oliveira e Matias Lex, iniciam uma campanha para combater a iminente invasão da varíola em Amparo.

Ruas – 1
Em sua esplêndida obra, a Cidade Racional, o Professor Liminha trata do processo de organização da cidade que se desenvolveu no século XIX.

Consta em seu livro um esboço muito interessante do que provavelmente era Amparo em 1858.


Na planta vemos entre outras, as ruas de Baixo (atual Barão de Campinas), do Meio (Duque de Caxias) e de Cima (Dr. Oswaldo Cruz).

Ruas – 2
Como o objetivo desta obra é comentar de modo superficial os assuntos em razão de ser o autor um pesquisador amador e historiador ídem, atenho-me à citação dos nomes das ruas e suas modificações através dos tempos.

Logicamente são ruas da parte antiga da cidade, a parte central que circundava a Matriz.

Tivemos entre outras as ruas da Constituição, Itororó, Aurora, Municipal, de Baixo, do Meio, de Cima, Boa Vista, Martins Barbosa, do Cemitério, Santa Cruz, do Silveira, Formosa,...

Vejamos as alterações:

· A rua de Baixo passou a rua do Silveira, depois rua da Constituição, em seguida rua do Comendador Joaquim Pinto e finalmente Barão de Campinas;
· Rua do Meio, depois rua Formosa, por ser com suas construções a mais bela, e finalmente a atual Duque de Caxias;
· A rua de Cima passou a ser rua Boa Vista e hoje é a rua Osvaldo Cruz;
· A Aguada de Nossa Senhora do Amparo passou a ser rua Municipal antes de se tornar a atual Rua Conde de Parnaíba;
· A Travessa da Ponte passou a Rua do Imperador antes de tornar-se rua Marechal Deodoro (rua do Irapuã);
· Rua do Rosário hoje XV de Novembro;
· Rua Direita hoje 13 de Maio;
· A rua General Osório já se chamou rua do Aquidabam;
· Beco que segue para Santa Cruz, depois rua Santa Cruz é a atual rua 8 de Abril.
· A rua do Cemitério localizava-se atrás da Igreja do Rosário conduzindo até o cemitério da época, hoje Jardim Público.

Não houve a pretensão de esgotar o assunto. São apenas alguns tópicos curiosos de um vasto tema a ser estudado.

CURTAS - IV
Telefone
A fazenda de Luis de Sousa Leite a sua residência na cidade.

Jardim Público (Parte de Baixo)
19/10/1888 – Os membros da comissão encarregada da construção do jardim público, Dr. João Pedro da Veiga, José Cândido da Silveira, João Gomes de Oliveira Carneiro e Gabriel Orlandi, comunicam à Câmara que as obras estão concluídas.

Planta
01/07/1878 – A Câmara autoriza o engenheiro Pucci a fazer a planta da cidade, pelo preço de 500$000. É a primeira planta de Amparo.

Livros
20/08/1874 – Primeiro anúncio de vendas de livros em Amparo, (Vitor Hugo, Alencar, Macedo, Júlio Verne, Casimiro de Abreu) na redação da Tribuna Amparense.

Largo da Matriz
19/07/1883 – Zeferino Costa Guimarães (Com. Guimarães), Antônio Jorge e o Dr. João Pedro da Veiga pedem autorização à Câmara “para fazer a arborização e ajardinamento do Largo da Matriz, ficando a cargo dos mesmos a obtenção dos meios precisos”.


ESTRADAS DE FERRO MOJIANA – III
Houve divergências entre os políticos, a imprensa e a opinião pública quanto a localidade da Estrada de Ferro Mojiana, ramal de Amparo, na época de sua construção.

O fato é que Zeferino da Costa Guimarães (Comendador Guimarães) doou os terrenos onde foi edificada a estação. Convém lembrar que o mesmo Comendador doou o terreno que liga a rua Duque de Caxias à estação, hoje rua que leva o seu nome.

A estação foi inaugurada a 15/11/1875.

Na verdade, o ramal de Amparo era uma necessidade premente em razão da produção de café da região.

Como curiosidade transcrevemos horários dos trens, divulgados em 1901, no Almanaque de Jorge Pires de Godoy.

Lamentável foi a desativação da via férrea. Acredito que se houvesse uma iniciativa de modernização, teríamos, hoje, mais uma importante opção de transporte.

Os trens R1 e R2 entre Amparo e Monte Alegre só correrão ás terças, quintas e sábados.

BILHETES - A venda de bilhetes nas principaes estações, foi a seguinte durante o anno de 94: Amparo, 76.688; Campinas, 63.838: Casa-Branca, 59.799; Ribeirão Preto, 52.515; Mogy- Mirim, 50.053.

Para Comprovar a Importância do ramal da mogiana e do município de Amparo temos a estatística acima do ano de 1894.